segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Falar de favelas como um outro mundo, significa não entender como funciona a cidade

Para não falarmos somente do Rio de Janeiro. E entendermos o problema das metrópoles urbanas do século XXI na América Latina, podemos usar o efeito comparativo e dar uma olhada no trabalho de Nathalie Puex.

Doutora em Antropologia Social pela Universidade de Paris 3 (Sorbonne Nouvelle), Nathalie Puex chegou à Argentina em 1997, para estudar primeiro - e depois trabalhar - sobre o tema da violência associada a problemas de sociabilidade e de inclusão social nas entranhas de Buenos Aires. É diretora do Laboratório de Antropologia Aplicada da FLACSO / Argentina, onde também é professora de Antropologia Econômica Antropologia e da Pobreza no Mestrado em Antropologia Social e Política.

Puex identifica práticas econômicas próprias dos setores marginalizados e suas fortes ligações com o sistema político institucional e aponta a dificuldade dos setores populares para fugir do estigma. Neste contexto, analisa a lógica do endividamento dos setores mais pobres e adverte que o problema não é a favela, mas a forma de organizar e estruturar a cidade politicamente. Escreveu vários artigos em livros e revistas sobre a violência, sociabilidade e práticas clientelistas nas cidades de Buenos Aires. Em breve será lançado seu primeiro livro, cujo título pode ser a Economia do Fiado.

Entrevista completa ao jornal argentino Página 12 no link abaixo:
http://www.pagina12.com.ar/diario/dialogos/21-157717-2010-11-29.html

Rio de Janeiro...

O Rio de Janeiro e a população de sua periferia merece muito mais do poder público que ações cinematográficas pontuais. Que seja o começo. E que os direitos sociais se estabeleçam. Pelo menos o discurso "brucutu", prendo e arrebento, não frequentou as entrevistas das autoridades policiais e a contagem de vítimas não foi escandalosa.
A chamada perifeira do Rio de Janeiro e suas favelas, são um dos repositórios simbólicos da identidade brasileira. E como poderíamos imaginar tem todas as contradições dessa mesma identidade.

Vai uma outra imagem dessa periferia:

Arquivo Histórico de Santa Maria completa 52 anos e realiza I Encontro dos Pesquisadores

De 29 de novembro a 3 de dezembro Santa Maria celebra o 52º aniversário do Arquivo Histórico Municipal e para comemorar a data, a Prefeitura, através da Secretaria de Município de Cultura, programou uma agenda de atrações. Na solenidade que abre a semana de atividades, na próxima segunda (29), às 19h, no Arquivo Histórico, a secretária de Município de Cultura, Iara Druzian, e a coordenadora do Arquivo, Daniele Calil, farão o lançamento da programação e a apresentação da marca da Associação de Amigos da entidade, criada em 22 de dezembro de 1958. A cerimônia também terá a apresentação da banda do Exército.

No dia 30, uma palestra ministrada pelo professor José Martinho Rodrigues Remedi (UCS/UNISC) e a apresentação de trabalhos acadêmicos, na sala Iberê Camargo, integram as atividades do I Encontro dos Pesquisadores do Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria. No dia 1º de dezembro, a programação segue com o ciclo "O Arquivo vai ao Cinema”, onde serão exibidos três longas metragens e, posteriormente, professores debaterão o tema com os espectadores. A comunidade ainda poderá conferir a exposição sobre a história da entidade “O Guardião da Memória Santa-mariense – Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria 52 anos”, na Reitoria da UFSM (dia 1º), no prédio 74 da UFSM (dia 2) e na Unifra (dia 3).

Os eventos tem promoção da Prefeitura Municipal, através da Secretaria de Município de Cultura e Associação dos Amigos do Arquivo Histórico Municipla; patrocínio do Banrisul e Livraria Nobel; e apoio do MTG - Casa do Gaúcho, 3º Divisão do Exército Brasileiro e Casa do Gaúcho. Confira programação abaixo.






Link para o Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria:


http://www.santamaria.rs.gov.br/cultura/index.php?secao=arquivo

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Comunicação e História realizam exposição

De 25 de novembro à 06 de dezembro de 2010, o Curso de Comunicação Social e o Curso de História da Unisc realizam em parceria uma exposição de fotos, no bloco 1 do campus.

A idéia surgiu na disciplina de Prática de RP I, a partir de uma série de ações comunicacionais que as acadêmicas de Relações Públicas Francine Weis, Helena Schuck e Tamara Arend estão realizando ao longo do semestre no CEDOC – Centro de Documentação Histórica da Universidade.

O tema da exposição é “Retratos de Casamento”, onde estão sendo expostas fotos de casamentos que aconteceram no decorrer do século XX, tendo como personagens casais de famílias da região de Santa Cruz do Sul e Interior.

Juremir Machado da Silva debate mito farrapo

O jornalista, historiador e escritor Juremir Machado da Silva palestra na Unisc no próximo dia três de dezembro sobre o livro que acaba de lançar "História Regional da infâmia - o destino dos negros farrapos e outras iniquidades brasileiras (ou como se produz o imaginário) no auditório geral da universidade, a partir das 19h15m.


O livro contesta os mitos que, por séculos, sustentaram a Revolução Farroupilha. O autor faz isso baseado em 15 mil documentos analisados por uma equipe de dez pesquisadores. Um trabalho que traz à luz detalhes até então desconhecidos sobre as razões da Guerra dos Farrapos e que tem, naturalmente, provocado muito polêmica.

"Conta-se que num passado não muito distante grandes homens construíram o Brasil com a força das suas mãos, a energia dos seus ideais e com o sangue que aceitaram verter em campos, rios, sertões e matas em nome do futuro e da pátria. Esses homens saíram da História para entrar no mito. Hoje, brilham em livros escolares ou figuram em placas de ruas paradoxalmente esquecidos e sempre lembrados. Quem foram esses homens? O que fizeram? Foram somente heróis? E se tivessem sido também infames personagens de uma época cruenta em que o futuro se fazia a golpes de preconceitos, de lança e de balas de canhão? (...) E se em cada herói se escondesse também um carrasco? E se a História, como a lemos nas cartilhas, não passasse de um romance de não ficção, uma narrativa estanha em que, sem poder mentir, não se dissesse a verdade? O que é verdade?" (Trecho de História regional da infâmia)

A vinda de Juremir é uma promoção do Diretório Acadêmico Rosa Luxemburgo; Curso de História; Curso de Comunicação Social; Centro de Línguas da UNISC; Departamento de Comunicação Social; Departamento de Direito; Departamento de História e Geografia e PPG em Letras.

Fonte: http://novocomunicacord.blogspot.com/

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cais Mauá: a polêmica só está começando.

Leia abaixo o ótimo artigo da Profa. Adriana Schönhofen Garcia, publicado originalmente em http://www.portoimagem.com/colunistas/adriana-schonhofen.html

COMO SE FAZ UMA ANÁLISE CRÍTICA DE UM PROJETO ARQUITETÔNICO

Você saberá avaliar as propostas para o Cais Mauá? Saberá dar uma opinião além do gosto ou não gosto e por quê? Como que críticos de design arquitetônico avaliam um projeto?
Usando a proposta apresentada em julho como exemplo e imaginando-a como um projeto final de uma cadeira de estúdio de arquitetura, o que os críticos diriam? É sabido que uma proposta preliminar não fornece todas as informações necessárias à construção, assim como nem todas as idéias são reveladas… Portanto, ela é um ótimo exemplo para discussão do que é realmente necessário a uma proposta completa.
Precedents (Estudos de Caso)
A primeira questão a se fazer aos competidores: quais são os precedents?
Precedents são as estruturas pesquisadas, as referências, podendo ser ou não funcionalmente semelhantes. Tipo: para um museu, estudam-se outros museus. Entretanto, qualquer característica num projeto anterior pode ser estudada. A influência dos estudos de caso no projeto é benéfica; a cópia, total ou parcial, seria um desastre criativo.
Na proposta apresentada em julho, o material publicado na imprensa não faz nenhuma referência sobre a que estudos de caso o projeto se embasa. Dificilmente foi criado do nada e o crítico perguntaria ao aluno: “Onde está a pesquisa feita?” E mais: “Por que esses precedents foram escolhidos? O que justifica sua escolha e qual a relação com o projeto do Cais Mauá?”
Diagramas
Toda a proposta deve apresentar diagramas de análise: movimento solar, acesso de pedestres e veículos, direção de ventos, distância de outros pontos de atração, tipo de edificações próximas ao terreno, alturas, etc. Uma proposta que não mostra diagramas é como mostrar uma casa sem fundações. Não tem base. O projeto já começou apresentando-se com pé esquerdo.
Design Concept
Segue então a pergunta fundamental “Qual é o design concept” da proposta? Design concept, o conceito de design, significa, de uma maneira bastante simples, a idéia por trás das decisões arquitetônicas, urbanísticas, paisagísticas e técnicas tomadas. Ele liga às partes ao todo, do detalhe ao geral.
Sketches
Próxima pergunta: onde estão os desenhos a mão que expliquem a evolução da idéia? Como saiu do ponto A e chegou ao B? Como nasceu a idéia e como ela foi desenvolvida com base no design concept? Sketches a mão não saem de moda. Os sketches de Zaha Hadid são publicados e estudados, mesmo que ela use vinte telas de computador ao mesmo tempo para gerar o projeto final. As idéias dela nascem a mão em 2D (duas dimensões). Frank Gehry, da mesma maneira, presa sua quase ignorância em lidar com computadores. Suas idéias desenvolvem-se na exploração de modelos reais em 3D (três dimensões). Ele explora forma como um escultor.
Avaliando um projeto arquitetônico
A avaliação de um projeto arquitetônico não é subjetiva. Todas as decisões de forma, de espaço, de especificação de materiais, de movimento, etc, estarão justificadas no conceito de design. Nada é aleatório e tudo tem que ser pensado.  O Arquiteto Bernard Tschumi enfatiza bastante essa idéia, de que “o projeto arquitetônico é a materialização do conceito”. Um design será “bom” tanto quanto melhor refletir o conceito. É assim que os alunos da arquitetura em escolas que seguem essa linha de pensamento são avaliados.
Por exemplo, o Centre Pompidou em Paris, podemos dizer que o design concept é “infraestrutura”. Todos os sistemas infraestruturais estão expostos e exagerados. Um leigo em arquitetura pode perceber isso. O conceito é claro e a abstração do conceito foi desenvolvida com maestria.
No caso da proposta apresentada em julho não há conceito.  Este nem foi nem mencionado na imprensa.  A falta de um conceito levanta questões…
A vista aérea do Cais Mauá apresentada em julho, olhando para o nordeste, por exemplo, o que justifica as entradas dos píeres na frente do pavilhões? Qual a justificativa que um píer seja daquele jeito e não de outro? É muito simples desenhar linhas, para dentro e para fora, aleatoriamente. Qual é o design concept?
A falta de conceito também se reflete na fragmentação das zonas, que não dialogam entre si. As torres são um mundo, o cais é outro e o prédio de escritórios e shopping é outro. É como uma colcha retalhos que não apresenta um elemento unificador. Paisagismo por paisagismo não é suficiente. Falta a base do todo, neste caso, um master plan, que também reflita o conceito.
A organização do Cais, o que em arquitetura chamamos de parti, é linear. Exemplos bem sucedidos lineares podem servir como referência.  Vejam por exemplo o projeto do High Line em New York. Os espaços criados são diferentes, mas existe um conceito de design muito claro, inteligível por qualquer pessoa, que faz referência às linhas de trem que ali existiam.
Importância histórica e atual
Projetos bem sucedidos começam e continuam com o constante engajamento e a educação da comunidade sobre a importância hitórica e atual de seus rios e lagos. Educação para crianças e adultos, palestras, atividades comunitárias de limpeza da orla, atividade esportivas, como competições aquáticas e outras são essenciais para o sucesso da integração e manutenção do Lago Guaíba pela comunidade.
A contribuição histórica e atual de suas águas também deve ser considerada. Navios enferrujando podem virar museus como acontece em São Francisco. Réplicas de antigas navegações podem ser construídas ou buscadas mundo a fora para contar a história da formação de Porto Alegre. Parques de demonstração de captação de água e de tratamento de esgoto, educam quanto ao respeito ao Lago. De onde vem e para onde vai a água de Porto Alegre?
Qualquer projeto que não considere essa componente social e histórica, propondo espaços que proporcionem o engajamento do Lago Guaíba com a comunidade, estará deficiente.
Integração e acesso.
Volta a pergunta: Onde estão os gráficos de análise de acesso? Onde estão os diagramas de movimento de carros, ônibus, pedestres e bicicleta? Isso faz parte de qualquer proposta. Apenas após essa análise, o  acesso de pedestre ao Cais poderá ser definido. Os diagramas são fundamentais para que se avalie se as decisões de acesso estão bem embasadas.
A proposta de julho previa nove passarelas sobre a Mauá. Estas podem até ser justificadas onde existe a linha de Trensurb, mas ali está sendo previsto um tunel. E no resto? Segue a questão: por quê? Se o objetivo é integrar o Lago Guaíba e o Cais à população, ou o centro ao Lago, passarelas, além de serem caras, não são a melhor alternativa como elementos de integração de um lado a outro da rua.
O pedestre segue a lei do menor esforço. Mesmo que haja um elevador, passarelas não são convidativas a explorar o que existe do outro lado da rua. A melhor solução arquitetônica advém da identificação do problema e proposição de soluções. O problema está que a Avenida Mauá em si é uma barreira física ao livre acesso ao Lago, como um muro horizontal. (fora o Muro da Mauá, que mencionaremos depois) Construir passarelas é somente reinforcar a situação existente.
Os mais famosos boulevards do mundo são convidativos à circulação de pedestres, atividades sociais e comerciais, como cafés, bares, artistas de rua, etc. Isso ocorre porque as ruas são atravessadas no nível do solo. Uma proposta de passarelas sobre a Avenue des Champs-Élysées seria considerada lunática.
O fato é que a integração harmônica entre veículos motorizados e pedestres é possível se a velocidade máxima permitida for baixa. Se o trânsito for intenso, existem alternativas de solução, como por exemplo, desviar o fluxo para outras ruas, submergí-lo, elevar o acesso inteiro para o outro lado da rua, etc.  Cabe ao estudo do entorno definir a melhor alternativa. Se alternativas deste tipo forem consideradas, a Avenida Mauá irá se transformar de patinho feio a cisne num piscar de olhos.
Ainda quanto ao acesso, não basta desenvolver a orla, é preciso desenvolver também o entorno. A proposta de julho esqueceu de olhar para o outro lado rua. Uma parte fundamental do sucesso de uma orla está na revitalização do acesso, das ruas e boulevards que desembocam no Lago Guaíba. Isso não foi considerado de maneira abrangente na proposta preliminar, apenas junto ao Gasômetro, como se o Cais fosse uma peça solta num tabuleiro.
Dito isso, no mínimo dois blocos para dentro do centro devem também sofrer intervenções de melhoria urbanística, como calçadas, sinalização, paisagismo, etc. Devido às proporções do projeto, estamos falando de um desenvolvimento de um district e não uma quadra. Todo o entorno deve ser integrado, da Mauá à Rua Sete de Setembro. Vejam por exemplo o Design District in Miami com várias quadras revitalizadas.
Construção de garagens no centro é marcha ré nas tendências urbanísticas atuais. Hoje o carro se proliferou, todo mundo quer ir para o shopping de carro, chega lá e não tem estacionamento. Essa e’ uma necessidade sem fim. Quanto mais garagens se constrói, mais carros se atrai. Vejam por exemplo software de simulação de cidades virtuais dos cursos de transportes da Escola Engenharia da UFRGS. A cada rodada de dez anos que eu fazia, construir garagens só aumentava os problemas. Exemplos por todo o mundo buscam reduzir o uso de transporte privado aos centros urbanos. Porto Alegre já possui um sistema bastante eficiente de transporte púplico para o centro.
Torres na orla
Alguém concordaria construir um prédio de escritórios na areia de Copacabana, do lado do mar, na Avenida Atlântica? Isso seria considerado um absurdo. O dito prédio imaginário deve ser construído do outro lado da Avenida. E por quê a mesma consciência não se aplica a orla fluvial? Qualquer construção que não vise o uso público ou não tenha a necessidade de estar na beira da água deve ser construída do outro lado da Avenida Mauá. Prédios atualmente existentes na Mauá, sem importância histórica, podem ser demolidos e ali construídos os tão desejados hotéis, escritórios e shopping centers. Por quê no Rio de Janeiro as pessoas achariam isso sensato e em Porto Alegre não?
Miami tem um rio, o Miami River, que sofre o mesmo desleixo que o Lago Guaíba. Poucos meses atrás, num relatório de 50 páginas do AIA (American Institute of Architecture), numa consultoria relâmpago de três dias, montada por nove especialistas em diferentes disciplinas, uma frase ficou bastante clara: usos privados não relacionados com água e não dependentes de água não deveriam ser construídos na beira do Miami River.
Alguém já pensou que poderíamos ter uma praia de Lago perto do Gasômetro? Para a arquitetura e engenharia de hoje, praticamente nada é impossivel. Em vez de Porto Alegre virar cidade fantasma no verão, ela mesmo receberia turistas. E mais importante, não precisaríamos esperar o fim-de-semana, apenas o fim do expediente, para ir à praia. O Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFGRS tem capacidade de analisar modelos reais e testar alternativas, em escala reduzida, do comportamento da orla, quanto aos movimentos das águas e de solo.
Muro e paisagismo
Enchentes são eventos recorrentes, às vezes de ciclos longos, como cem anos ou mais. O muro da Mauá é parte de um sistema de proteção às enchentes. Não entrarei no mérito se é necessário ou não. Se ele é mantido, cabe à arquitetura incorporá-lo e estabelecer integração com a cidade com soluções criativas, como mencionei anteriormente para a Avenida Mauá. Se é removido, cabe também à arquitetura adaptar a região às enchentes. Como assim?
Um exemplo simples de integração água/edificação são as casas de palafitas ao longo do Rio Amazonas. É a arquitetura respondendo a uma necessidade habitacional, mas convivendo harmoniosamente com a natureza.
Em centros urbanos, como Galveston, no Texas, há uma parede de proteção no centro da cidade. O furacão de 1900, que matou milhares de pessoas, o mais mortal de todos os furacões já ocorridos nos Estados Unidos, levou à construção da Seawall, com mais de uma dezena de kilômetros de extensão e a elevação do nível do solo da cidade. Entretanto, os códigos de construção atuais limitam o uso do primeiro andar. As “palafitas”não são visíveis na maioria dos novos projetos porque podem ser enclausuradas, mas há restrições do uso junto ao solo. Quartos, salas, cozinhas, etc são proibidos pelo código. Em toda a cidade, dentro e fora do perímetro urbano, existe essa “aceitação” construtiva de que uma enchente pode e, provavelmente, ocorrerá novamente.
Mas voltando ao nosso muro e a proposta apresentada em julho… O talude proposto não é design e não faz parte de um design concept…. Nesse “pequeno” detalhe, novamente, não há solução arquitetônica e nem de paisagismo. A proposta em questão simplesmente aplica práticas corriqueiras.
O talude também não é sustentável. Grama é verde, mas não é green. Grama que necessita de corte consome energia e polue (máquinas que cortam grama são elétricas ou usam combustível). Reduzir manuteção é reduzir recursos e, conseqüentemente, custos. Grama que não for nativa precisa ser molhada, consome água e portanto não é sustentável. O paisagismo contemporâneo sustentável busca o uso zero de água. A solução é a especificação de plantas nativas, que se mantém sozinhas. Vejam o exemplo do South Pointe Park in Miami Beach.
Uma prosposta que não fizer considerações inovadoras para o paisagismo estará deficiente. O paisagismo não pode ser uma consequência das edificações. Ele deve ser concebido como parte do design concept; deve ser pensado conjuntamente com as estruturas e é tão importante quanto elas.
Design da torre do hotel
Torre de vidro é uma idéia velha. Mies van der Rohe choquou quando propôs sua torre de vidro para a Friedrichstrasse, em Berlim, em 1919. Qualquer estudante do primeiro ano de arquitetura propõe torres de vidro como a da proposta. Não há inovação nenhuma. A torre de Mies era muito superior e isso foi há mais de noventa anos atrás.
Só para citar um exemplo, vejam os projetos de prédios do Arquiteto Ken Yeang. Não dá nem para comparar… A complexidade de soluções arquitetônicas e de meio ambiente que ele busca em cada projeto leva em consideração o sol, o vento, o meio ambiente, o bem estar dos ocupantes, o entorno, os materiais, a conservação de energia, etc e etc.
Se querem fazer um prédio de vidro, então que seja, ao menos, criativo como a Prada Store em Tokyo dos Arquitetos Herzog e de Meuron. Caso contrário, vira simplesmente uma casca transparente que sobrevive a ar condicionado.
Transporte fluvial
E o transporte fluvial? A proposta delinea as alternativas? Mostra diagramas de possíveis roteiros? Propõe número adequado de píeres a diversos tipos e tamanhos de embarcações? Não.
Se não existem empresas interessadas em assumir o transporte fluvial, faz-se um estudo de mercado, identifica-se a demanda potencial e busca-se empresas potenciais no mundo inteiro. Se o novo serviço é eficiente, a demanda surge. Conectar a zona sul da cidade com o centro por água não é sonho. A cidade de Seattle é um exemplo que pode servir de refêrencia.
Se as empresas de ônibus definissem o seu negócio como provedoras de serviços de transportes e não como provedoras de transporte rodoviário exclusivamente, elas poderiam criar divisões de transporte fluvial e, deste modo, melhor atenderem à comunidade. Quando pensamos em veículos anfíbios que andam na água e no solo, a linha divisória, do que é onibus e do que é barco, desaparece.
Uma proposta de design abrangente deve programar a inclusão do desenvolvimento fluvial para todos os trajetos que poderiam ser desafogados e/ou reduzidos os tempos de percurso, incluindo também a conexão com Guaíba e Barra do Ribeiro.
Apresentação
Depois de se analisar o conteúdo, se analisa a apresentação.
Como mencionado, a apresentação da proposta preliminar está incompleta, pois os diagramas de análise não foram fornecidos. As perspectivas, aqui chamados renderings, também estão incompletas em conteúdo e em número. Maior informação sobre as soluções deve ser fornecidas na proposta final. A arquitetura fala por imagens.
Por exemplo, como as passarelas seriam vistas no contexto da Avenida Mauá? Falar sobre elas não basta, a imagem gráfica deve ser fornecida. Vistas aéreas são necessárias, mas precisam ser complementadas com imagens em como o espaço é percebido pelos ocupantes, na altura dos olhos do observador. Também a vista que mostra a parte do corredor dos pavilhões está deficiente de contexto. Como o corredor se relaciona com Lago? Isso deve ser melhor ilustrado. E a praça principal do Cais? Menciona-se, mas não se mostra.
Também alerto que imagens manipulam; mostram o que querem mostrar. Tudo tem que estar muito claro e não só na planta baixa, mas nas perspectivas também. O uso de colagens de pessoas bonitas e cool pode ser usado como elemento de distração. Servem para dar uma idéia do “clima”, da mood, do ambiente, mas, como os críticos fazem, devem ser imediatamente desconsideradas num segundo momento e a atenção voltada ao que realmente está sendo proposto. Se algum ponto não está claro, certamente, está faltando uma imagem para esclarecê-lo.
A menos convincente das perspectivas da proposta é a vista aérea para o nordeste do Cais. Nesta imagem houve somente um copiar e colar de símbolos de pessoas. Ok, mas o que elas estão fazendo ali? Os fantasminhas brancos não convencem como pessoas alegres e felizes engajadas com o Lago. Qual a atividade? Estão caminhando a esmo sobre um pavimento fervente no verão e totalmente desprotegido no inverno? Se a proposta fala em transporte náutico, onde estão os navios? Onde estão os guichês de embarque? Onde estão os bancos? Onde estão as proteções para sol? Como será a ilunimação? Não tem paisagismo nenhum? A imagem não fornece informação de como o espaço será ocupado e como será o engajamenteo das pessoas com o Lago Guaíba. Ela apenas mostra um pavimento que entra e sai da orla.
Comentário final
A proposta inicial, como coloquei anteriormente em outro artigo, não ousa, não questiona, não é abrangente, não oferece soluções adequadas ao contexto e nem é sustentável. É uma proposta que olha para o trás, para o passado, e não para frente, para o futuro.
A manifestação da população, do Instituto dos Arquitetos do Brasil, do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, das faculdades de arquitetura e engenharia, dos profissionais de Porto Alegre e região é fundamental neste momento da abertura das propostas à concorrência do Cais Mauá. A discussão e seleção do melhor projeto deve ser embasada em conhecimento real. A responsabilidade de uma cidade melhor não está somente nas mãos da equipe oficial seleção, mas nas mãos de cada um que se importe com Porto Alegre.

Adriana Schönhofen Garcia, M.Sc.Eng & M.Arch
Miami, Florida, Estados Unidos
Blog: schonhofen.blogspot.com/
E-mail: agarc026@fiu.edu

Documentos sobre a participação dos Estados Unidos no golpe de Pinochet integrará acervo de Museu

Mais de 20 mil documentos que comprovam o envolvimento dos EUA no golpe de Estado contra o ex-presidente chileno Salvador Allende, em 1973, foram entregues ao Museu da Memória e Direitos Humanos de Santiago de Chile. O chefe do Projeto de Documentação do Chile no Arquivo Nacional da Universidade George Washington dos Estados Unidos e compilador de arquivos desclassificados ou secretos, Peter Kornbluh, chamou o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos Henry Kissinger de arquiteto dos planos de Washington contra Allende, porque foi "a pessoa que economicamente e militarmente ajudou Augusto Pinochet para consolidar o seu regime."
Entre os textos, compilado em bancos de dados, também há transcrições de conversas entre Pinochet e o ex-chefe da polícia secreta (DINA), Manuel Contreras, em alusão ao assassinato do ex-chanceler chileno Orlando Letelier. "Esses documentos devem ajudar a promover a justiça ea dignidade no Chile", disse Kornbluh.
"Obviamente, os textos são especialmente valiosos em certos casos de investigações oficiais. Agora há um banco de dados que pode ser útil para aqueles que buscam informações mais detalhadas", acrescentou.
Na cerimônia da entrega da documentação o diretor do Museu da Memória e Direitos Humanos, Romy Schmidt, destacou a importância da doação que permite a referências históricas sobre a cumplicidade dos Estados Unidos para sustentar o regime militar no Chile.
Fonte: Página 12 http://www.pagina12.com.ar/diario/ultimas/20-157098-2010-11-18.html

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Austeridade ou quem vai pagar a conta da crise econômica mundial

Veja o excelente comentário de:
Mark Blyth
Professor da International Political Economy
Watson Institute for International Studies
Brown University






Se não conseguir abrir acesse:
 http://www.youtube.com/watch?v=E1Kzp5EVUWg

Plataforma Lattes é reconhecida pela Nature

A medição e avaliação do desempenho acadêmico é agora um fato relevante na vida científica. É exatamente este assunto que o artigo “ Let ´s make science metrics more scientific” publicado na revista Nature, do dia 24 de março, aborda. Segundo o artigo, é de extrema importância para o desenvolvimento de um país criar um sistema aberto, apropriado e consistente que possa medir todas as atividades que compõem a produtividade acadêmica.
Na matéria fica claro ser necessário construir uma ciência de medição cada vez mais moderna, confiável e melhor. Decisões que vão desde a posse à classificação e financiamento das universidades dependem da medição. E esta demanda deve englobar todos os interessados, desde as organizações de financiamento nacionais, universidades, pesquisadores, empresas e outras organizações de investigação científica, que juntas devem reunir forças para definir uma agenda de pesquisa e fomentar a construção de métricas científicas mais eficazes, fundamentada na teoria, construída com dados de alta qualidade e desenvolvido por uma comunidade com fortes incentivos para usá-los.


Ainda que muitos cientistas sejam freqüentemente reticentes ao se ver rotulados e classificados pelos bancos de dados, já que acreditam que seu trabalho é muito complexo para ser avaliado em termos tão simplistas como métricas, eles percebem a importância de avaliar a produção científica, as áreas mais investidas, as que ainda apresentam déficit, para que assim o país possa ter um respaldo da sua colocação a nível mundial, ou seja, as medições devem ser mais um estímulo para o desenvolvimento da ciência do país.


O primeiro passo para criar medições confiáveis é desenvolver uma infra-estrutura competente. Hoje, grandes iniciativas como Thomson Reuters Web of Knowledge e U.S National Bureau of Economic Research Patent Database, buscam apurar os resultados científicos, como publicações, citações e patentes. Estes esforços são todos úteis, mas são trabalhosos e dependem de financiamento e inovação constantemente. Assim, é preciso um esforço internacional concreto para combinar, ampliar e institucionalizar essas bases de dados dentro de uma infra-estrutura coesa e abrangente.


Plataforma Lattes


O artigo também cita a Plataforma Lattes, como um grande exemplo de banco de dados completo e altamente qualificado. Atualmente, o Lattes fornece dados de alta qualidade com cerca de 1,6 milhões de currículos e 4.000 instituições cadastradas, sendo que 8% destes currículos são de doutores e cerca de 13% de mestres.


A Plataforma Lattes representa a experiência do CNPq na integração de bases de dados de currículos e de instituições da área de ciência e tecnologia em um único Sistema de Informações, cuja importância atual se estende, não só às atividades operacionais de fomento do CNPq, como também às ações de fomento de outras agências federais e estaduais.


Dado seu grau de abrangência, as informações constantes da Plataforma Lattes podem ser utilizadas tanto no apoio a atividades de gestão, como no apoio à formulação de políticas para a área de ciência e tecnologia.


O Currículo Lattes registra a vida pregressa e atual dos pesquisadores sendo elemento indispensável à análise de mérito e competência dos pleitos apresentados à Agência. A partir do Currículo Lattes, o CNPq desenvolveu um formato-padrão para coleta de informações curriculares hoje adotado não só pela Agência, mas também pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do País.


A adoção de um padrão nacional de currículos, com a riqueza de informações que esse sistema possui, a sua utilização compulsória a cada solicitação de financiamento e a disponibilização pública destes dados na internet, deram maior transparência e confiabilidade às atividades de fomento da Agência.


Segundo o artigo, por criar incentivos adequados para que pesquisadores e instituições acadêmicas usem o banco de dados, por incentivar e avaliar de forma completa as pesquisas acadêmicas e por sua infra-estrutura dinâmica e completa, o banco de dados Lattes é considerado um dos mais confiáveis do mundo atualmente.


O artigo conclui afirmando que os países devem dar prioridade a qualidade, transparência e modernização dos bancos de dados acadêmicos para melhorar ainda mais o desempenho cientifico mundial. E de que forma isso seria possível? Construindo uma plataforma internacional de dados apoiada por varias agências de financiamento. Assim será possível aumentar o diálogo entre os cientistas de diversos países para desenvolver medições e testar a sua validade por meio de wikis, blogs e grupos de discussão, construindo desta forma uma comunidade cientifica mais unida.


Leia o texto na íntegra clicando em:
http://www.nature.com/nature/journal/v464/n7288/full/464488a.html#B2

Assessoria de Comunicação do CNPq

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Editora distribui e-books grátis de seus livros esgotados

Publicado em De Olho na CI
(http://pbcib.webnode.com.br/news/editora-distribui-e-books-gratis-de-seus-livros-esgotados/)

A reforma da lei de direitos autorais tem como objetivo melhorar algumas deficiências de nossa legislação. Uma das mais graves é o que acontece nos casos em que uma obra se esgota, e por algum motivo a editora já não tem mais interesse de reeditá-la. Nesses casos, ficamos reféns da disponibilidade em sebos e bibliotecas, e não é raro que um livro importante simplesmente desapareça sem que se possa fazer nada a respeito.

Uma solução para esse problema são os livros digitais. Eles já estão entre nós há um bom tempo, mas só recentemente as empresas despertaram para as possibilidades desse negócio. Pouca gente ainda duvida que dá para ganhar dinheiro lançando versões digitais de livros esgotados. Por isso, foi com agradável surpresa que encontramos no site da Editora Autêntica uma boa quantidade de livros esgotados de seu acervo sendo distribuídos gratuitamente. São obras de interesse acadêmico, que ainda podem ajudar muita gente, mas que estavam inacessíveis até agora.



A apresentação da Editora Autêntica:


A Autêntica agora também tem livros em versão eletrônica. São títulos esgotados, procurados pelo público, e que poderão ser acessados em nosso site, gratuitamente.

Abreviação do termo "eletronic book" ou "livro eletrônico", o e-book possuiu o mesmo conteúdo da versão impressa, incluindo capa e contracapa, só que no suporte digital. O livro pode ser lido pelo computador ou, caso prefira, é possível imprimi-lo em papel, por meio de uma impressora.
Um clique do mouse. Esta é a distância que separa o leitor de um e-book. Um livro que, ao invés de ser impresso naquele formato tradicional tal qual o conhecemos, é um arquivo para download. Em qualquer lugar do mundo é possível acessar o www.autenticaeditora.com.br e baixar nossos e-books já disponíveis!
Vale lembrar que, apesar desse novo suporte, os livros seguem protegidos pelas leis de direitos autorais. Ou seja, eles não podem ser alterados, plagiados, distribuídos ou comercializados sem a autorização do seu autor e da editora.

Boa leitura!

Confira os livros no site da editora:

http://www.autenticaeditora.com.br/livros_digitais

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Querem banir o Monteiro Lobato, Que vergonha!



Para não dar margens a interpretações equivocadas do meu ponto de vista, quero em primeiro lugar afirmar o meu respeito à luta contra qualquer forma de discriminação - seja racial, de gênero, social, cultural. O fim do preconceito está intimamente ligado com o amadurecimento da sociedade.

Dito isto, acho que alguns setores e atores que militam em prol desta causa têm perdido um tanto da perspectiva do que significa de fato essa luta e adotado posturas intolerantes e intrasigentes, que resultam no cerceamento da liberdade artística e cultural.
Exemplo disso é o recente caso envolvento o veto que o Conselho Nacional de Educação impôs à aquisição por parte da administração federal do livro de Monteiro Lobato, "Caçadas de Pedrinho". O argumento do CNE, que deliberou sobre o assunto de forma unânime, é que o livro de Lobato possui trechos racistas. Para sustentar esta ideia, extrai do texto - e do contexto histórico - alguns trechos.

Uma ativista do movimento negro, ouvida pela reportagem da Agência Brasil, endossa a decisão do CNE.  Marlene Lucas disse ser a favor da retirada de "Caçadas de Pedrinho" das escolas. “Tudo aquilo que agride a identidade das pessoas deve ser banido, seja de qual período for, independentemente da importância histórica e artística”, defende.
Sinceramente, este tipo de atitute é tão tresloucada que beira ao ridículo. A patrulha ideológica e do politicamente correto levada a estes níveis pode ter consequências desastrosas. Então, daqui a pouco estaremos como os nazistas, queimando livros ou rasgando obras de arte que agridem a identidade das pessoas.

Uma visão crítica sobre o tema me foi enviado por uma militante do movimento negro,que também discorda da decisão do CNE. É um pouco extensa, mas vale a leitura.


LEITURA CRÍTICA - MONTEIRO LOBATO RACISTA

Quem paga a música escolhe a dança?
Marisa Lajolo

"Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, está em pauta e é bom que esteja, pois é um livro maravilhoso. Narra as aventuras da turma do sítio de Dona Benta primeiro às voltas com a bicharada da floresta próxima e, depois, com uma comissão do governo encarregada de caçar um rinoceronte fugido de um circo. Nos dois episódios prevalecem o respeito ao leitor, a visão crítica da realidade, o humor fino e inteligente.

Na primeira narrativa, a da caçada da onça, as armas das crianças são improvisadas e na hora agá não funcionam. É apenas graças à esperteza e inventividade dos meninos que eles conseguem matar a onça e arrastá-la até a casa do sítio. A morte da onça provoca revolta nos bichos da floresta e eles planejam vingança numa assembléia muito divertida: felinos ferozes invadem o sítio e – de novo - é apenas graças à inventividade e esperteza das crianças (particularmente de Emília) que as pessoas escapam de virar comida de onça.

Na segunda narrativa, a fuga de um rinoceronte de um circo e seu refúgio no sítio de Dona Benta leva para lá a Comissão que o governo encarregou de lidar com a questão. Os moradores do sítio desmascaram a corrupção e o corpo mole da comissão, aliam-se ao animal cioso da liberdade conquistada e espantam seus proprietários. E, batizado Quindim, o rinoceronte fica para sempre incorporado às aventuras dos picapauzinhos.

Estas histórias constituem o enredo do livro que parecer recente do Conselho Nacional de Educação (CNE), a partir de denúncia recebida, quer proibir de integrar acervos com os quais programas governamentais compram livros para bibliotecas escolares. O CNE acredita que o livro veicula conteúdo racista e preconceituoso e que os professores não têm competência para lidar com tais questões. Os argumentos que fundamentam as acusações de racismo e preconceito são expressões pelas quais Tia Nastácia é referida no livro, bem como a menção à África como lugar de origem de animais ferozes.

Sabe-se hoje que diferentes leitores interpretam um mesmo texto de maneiras diferentes. Uns podem morrer de medo de uma cena que outros acham engraçada. Alguns podem sentir-se profundamente tocados por passagens que deixam outros impassíveis. Para ficar num exemplo brasileiro já clássico, uns acham que Capitu (D. Casmurro, Machado de Assis, 1900) traiu mesmo o marido, e outros acham que não traiu, que o adultério foi fruto da mente de Bentinho. Outros ainda acham que Bentinho é que namorou Escobar...!

É um grande avanço nos estudos literários esta noção mais aberta do que se passa na cabeça do leitor quando seus olhos estão num livro. Ela se fundamenta no pressuposto segundo o qual, dependendo da vida que teve e que tem, daquilo em que acredita ou desacredita, da situação na qual lê o que lê, cada um entende uma história de um jeito. Mas essa liberdade do leitor vive sofrendo atropelamentos. De vez em quando, educadores de todas as instâncias – da sala de aula ao Ministério de Educação- manifestam desconfiança da capacidade de os leitores se posicionarem de forma correta face ao que lêem.

Infelizmente, estamos vivendo um desses momentos.

Como os antigos diziam que quem paga a música escolhe a dança, talvez se acredite hoje ser correto que quem paga o livro escolha a leitura que dele se vai fazer. A situação atual tem sua (triste) caricatura no lobo de Chapeuzinho Vermelho que não é mais abatido pelos caçadores, e pela dona Chica-ca que não mais atira um pau no gato-to. Muda-se o final da história e re-escreve-se a letra da música porque se acredita que leitores e ouvintes sairão dos livros e das canções abatendo lobos e caindo de pau em bichanos. Trata-se de uma idéia pobre, precária e incorreta que além de considerar as crianças como tontas, desconsidera a função simbólica da cultura. Para ficar em um exemplo clássico, a psicanálise e os estudos literários ensinam que a madrasta malvada de contos de fada não desenvolve hostilidade conta a nova mulher do papai, mas – ao contrário- pode ajudar a criança a não se sentir muito culpada nos momentos em que odeia a mamãe, verdadeira ou adotiva...

Não deixa de ser curioso notar que esta pasteurização pretendida para os livros infantis e juvenis coincide com o lamento geral – de novo, da sala de aula ao Ministério da Educação — pela precariedade da leitura praticada na sociedade brasileira. Mas, como quem tem caneta de assinar cheques e de encaminhar leis tem o poder de veto, ao invés de refletir e discutir, a autoridade veta. E veta porque, no melhor dos casos e muitas vezes com a melhor das intenções, estende suas reações a certos livros a um numeroso e anônimo universo de leitores...

No caso deste veto a "Caçadas de Pedrinho", Conselheira Relatora Nilma Lino Gomes acolhe denúncia de Antonio Gomes da Costa Neto que entende como manifestação de preconceito e intolerância de maneira mais específica a personagem feminina e negra Tia Anastácia e as referências aos personagens animais tais como urubu, macaco e feras africanas; (...) aponta menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano , que se repete em vários trechos do livro analisado e exige da editora responsável pela publicação a inserção no texto de apresentação de uma nota explicativa e de esclarecimentos ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura.

Independentemente do imenso equívoco em que, de meu ponto de vista, incorrem o denunciante e o CNE que aprova por unanimidade o parecer da relatora, o episódio torna-se assustador pelo que endossa, anuncia e recomenda de patrulhamento da leitura na escola brasileira. A nota exigida transforma livros em produtos de botica, que devem circular acompanhados de bula com instruções de uso.

O que a nota exigida deve explicar? O que significa esclarecer ao leitor sobre os estudos atuais e críticos que discutam a presença de estereótipos na literatura? A quem deve a editora encomendar a nota explicativa ? Qual seria o conteúdo da nota solicitada? A nota deve fazer uma auto-crítica (autoral, editorial?), assumindo que o livro contém estereótipos? A nota deve informar ao leitor que "Caçadas de Pedrinho" é um livro racista? Quem decidirá se a nota explicativa cumpre efetivamente o esclarecimento exigido pelo MEC?

As questões poderiam se multiplicar. Mas não vale a pena. O panorama que a multiplicação das questões delineia é por demais sinistro. Como fecho destas melancólicas maltraçadas aponte-se que qualquer nota no sentido solicitado – independente da denominação que venha a receber, do estilo em que seja redigida, e da autoria que assumir - será um desastre. Dará sinal verde para uma literatura autoritariamente auto-amordaçada. E este modelito da mordaça de agora talvez seja mais pernicioso do que a ostensiva queima de livros em praça pública, número medonho mas que de vez em quando entra em cartaz na história desta nossa Pátria amada idolatrada salve salve. E salve-se quem puder... pois desta vez a censura não quer determinar apenas o que se pode ou não se pode ler, mas é mais sutil, determinando como se deve ler o que se lê!

Marisa Lajolo - Profª Titular (aposentada) da UNICAMP. Profª da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisadora Senior do CNPq. Organizadora, com João Luís Ceccantini do livro de Monteiro Lobato livro a livro (obra infantil), obra que recebeu o Prêmio Jabuti 2010 como melhor livro de não ficção

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Flashes de Montevidéu - Uruguai

Na cidade indiferente Deus não sabe onde ir.



Fun Fun, fundado em 1895, é um dos boliches/ tangueria mais antigos de Montevidéu. Fica na entrada da Cidade Velha, atrás do Teatro Solís. É daqueles lugares incontornáveis, as noites são inebriantes, de quinta a sábado. Abaixo um detalhe do palco, à espera dos tangueros.




 
(Flaco, quando volveremos a escuchar Doña Edith Avalos?)

Colônia do Sacramento - Uruguai

    Que te parece, Bossa e Candombe en vivo.

    E aproveitem, que o câmbio está ótimo.